"Dias de praia, de sol quente na pele e na alma. Dias de
folga de descanso e maresia, do adeus à melancolia, da falta, da sala vazia. As
nossas pernas se entrelaçavam naquele sofá apertado, naqueles dias incertos e
apesar de parecer angustiante não era. Tudo soava instigante demais apesar de
não termos o que falar e, sabe, não saber o que dizer sufocava ainda que
disfarçasse os poucos assuntos e nos poupasse das amenidades.
O verão correu solto, como toda pausa desenfreada corre, a
vida imitou a arte e se sucedeu em poucos, e bem ensaiados, atos. O fim chegou,
já era hora de outra estação, mas como era fim doeu, rasgou, deixou estragos
por fora e por dentro. Refletimos tanto sobre o fim, que concluímos que nem
todos são tão ruins. O fim da dor, do trabalho, do caos, da briga, todos esses
fins são bons, mas todo o resto é ruim e dá insônia. Ficamos de anotar isso pra
não esquecer. Não esquecemos. Passamos adiante pra os sobrinhos e as moças
sorridentes que queriam saber da nossa história.
Quando deixamos de ser nós foi triste, mais um fim ruim pra
colecionar, mas aí muita coisa já tinha passado, uns sonhos já tinham sido
riscados da minha lista interminável e eu já não era tão avoada ,como sempre
faziam questão de falar. E foi bom, depois de ser quase tanto tempo, ser só eu
andando por aí foi reconfortante. Eu tinha perdido minha sombra mas era, a
partir dali, uma pessoa inteira com alguns planos bobos e uma vontade absurda
de viver.
Nessa vontade de ser, que quase me rasga o peito, caí muito,
ralei os joelhos tentando descobrir onde eu tinha deixado o plano que
abandonei. Procurei, insisti, não achei. Fiz um melhor. Com mais cores e vida,
com mais poesia e música. Com mais “In my life” – sem ser cantada pelos Beatles
- daquele filme que a gente ficou de ver. Chorei ao ouvir, mas chorei porque a
música é linda e me lembra a outra casa que pouca gente conheceu, a casa que eu
fugia, stalkeava, dançava e sorria.
Os dias de praia sempre vão me lembrar a história toda e os
fins bons e as músicas, o vestido, meus contos e sonhos e, claro, o nome da
minha filha que agora, depois disso, já não é igual. Sei que hoje se inicia um
capítulo diferente dessa história tão singular, tão unilateral, tão única e
especial. Hoje eu não tenho mais bagagens nem verbos no plural. Larguei
memórias mas guardei lembranças e prometo recordar os bons momentos por mim. Eu
ainda sonho em contar histórias pra crianças e elas merecem ouvir sobre fins...
os bons, sabe?
Continuo economizando amenidades pra ter aqui o que foi
feliz, apesar de muito deixar, guardar tudo o que foi bom em mim. De começos a
fins, amar. De músicas a poesias, lembrar."
07 de novembro de 2016 Carolina Santana
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